Nuno Santos Shihan

"Um homem, conhece as suas limitações, um guerreiro...
supera-as... "

義理 GIRI

Giri é uma conduta muito peculiar e importante na cultura da sociedade japonesa tradicional. Não há nenhuma palavra equivalente em português para Giri. Por esse motivo, para um ocidental entender o seu significado verdadeiramente, deve entender profundamente a singularidade da cultura japonesa.

A perseguição do dever, justiça, retidão, comprometimento, dever de gratidão é chamado Giri.

Não há nada que mais influencia os atos japoneses, pensamentos, fama e relações humanas como o Giri. 

Como um professor de Bujutsu (disciplinas de artes marciais), escolhi escrever sobre esse termo típico dentro da cultura japonesa tradicional e mostrar a beleza, os valores educacionais e os benefícios de entender e seguir as regras do Giri, principalmente um valor que atualmente está em extinção.

Ainda que a sociedade japonesa esteja mudando devido às influências ocidentais e a geração mais jovem está cada vez mais se afastando dos conceitos culturais, estes valores ainda são fortes no Japão. As relações entre pais e filhos, professores e estudantes, amigos, companheiros de trabalho, comunidades asseguram que tais valores não caiam no esquecimento.

Essa relação com as pessoas não é visto como uma obrigação forçada, e sim uma ação de gratidão natural e sincera, que para muitas pessoas é incompreensível. Se a pessoa tem “Giri” ela nunca se esquecerá das suas obrigações.

Este costume pode ser achado nas artes marciais japonesas tradicionais, uma relação eterna de aluno e mestre. Infelizmente, hoje em dia, principalmente no ocidente, muitos consideram as artes marciais como um produto comercial. Eles pagam pelo treino deles e esperam adquirir o seu valor gasto. Depois, quando se cansam do produto ou acreditam ter-se tornado obsoleto, vão comprar outro produto (escola).

Nas artes marciais antigas, a falta de Giri era considerada a maior das desonras e o Haragiri seria o único caminho para honrar tal ato. As tradições eram transmitidas de pai para filho (家伝 Kuden) ou de professor para estudante, no entanto, somente quando havia uma ligação espiritual muito forte (心伝 Shinden), essa obrigação de ensinar tudo aquilo que sabiam deveria ser absorvido pelo estudante, aprendendo tanto quanto pudesse de forma a que o fluxo (流 Ryu) das artes passasse à próxima geração.

Estudos confirmam que um bebé não tem consciência do outro, para ele apenas ele próprio existe e, assim, ele é essencialmente egocêntrico. Esta ação egocentrista dos bebés é complementada pelos adultos, no sentido que tudo o que o bebé necessita, recebe naquele instante. Se ele chora ou age diferentemente, todas as atenções se focam para satisfazê-lo, seja dando de mamar, trocando as fraldas ou agradando-os da melhor maneira.

Essa tendência humana ao egocentrismo permanece, apesar do bebé crescer e se tornar adulto, passando a ter consciência do outro, percebendo que existe uma correlação social, que não é o centro do universo e descobrindo que existem vontades alheias que são maiores que a dele. É visto que existem muitos adultos que ainda são como os bebés neste quesito, crescem, mas continuam a crer que são o centro do universo. Manipulam pessoas, situações, cônjuges, filhos e num delírio psíquico, manipulam-se a si mesmos. Tudo com o objetivo de atender às suas próprias necessidades, anseios, caprichos, inseguranças e tudo isso se torna egoísmo.

E se em português não há um sinónimo específico para designar o GIRI, certamente posso dizer que o seu antónimo é Egocentrismo e Egoísmo.

Shihan Nuno Santos



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